quinta-feira, 16 de julho de 2009

Da coluna social às páginas policiais – As crises de luxo

Assistimos nesta semana a mais um escândalo envolvendo milionários em (supostos) esquemas fraudulentos. Desta vez, a empresária Tania Bulhões, proprietária de uma luxuosa loja de móveis e decoração que leva o seu nome, foi o alvo de uma operação liderada pela Receita Federal. A empresária está sendo acusada por crimes de evasão de divisas, descaminho (importação de produtos sem pagamento de tributos), formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.

É inevitável, com este caso, lembrar do acontecido com a Daslu, em 2005. Ícone do luxo e da elite paulistana, a loja foi investigada por crimes similares e seus proprietários chegaram a ser presos, inclusive, acusados de importação irregular.

Desconheço outros detalhes destes casos, mas a apuração jornalística não é o objetivo deste artigo. O que cabe aqui é a reflexão sobre os abalos de uma crise, mesmo a quem acha que está acima do bem e do mal. Em ambos os casos, claramente, a crise foi deflagrada por uma combinação de três fatores presentes na cultura brasileira: o “Isso nunca vai acontecer comigo”, o “Não há nada que o dinheiro não pague” e o “Você sabe com quem está falando?”.

Não tenho a intenção de ser óbvio e concluir que criminosos têm mais chances de passar por uma crise. A questão é muito mais sobre o primeiro fator. Aquela certeza que alguns executivos carregam de que sua empresa está livre de crises. Por isso, acabam, ainda que inconscientemente, sendo negligentes com a organização e com sua imagem.

Enquanto, em um extremo, na busca excessiva pela valorização da imagem, as socialites empresárias foram (aparentemente) capazes de cometer crimes, no outro extremo estão aqueles que, preocupados apenas com os resultados financeiros, esquecem da importância de cuidar continuamente da sua imagem e se fortalecer para uma possível crise. Mesmo quem tem uma conduta séria está sujeito a passar por uma crise – e muitos outros artigos deste blog já mostraram isso.

Além de ter que se explicar à justiça, Eliana Tranchesi, da Daslu, e Tania Bulhões experimentaram o sabor amargo de uma crise de imagem, que, ao que tudo indica, não é nada agradável.


Bruno Carramenha é Executivo de Atendimento da LVBA Comunicação e professor-assistente de Gestão da Comunicação Interna na Faculdade Cásper Líbero.

2 comentários:

Mayra Martins disse...

Gostei da associação de crise de imagem de pessoas e empresas. Mesmo por que, empresas são pessoas e, portanto, possuem características genuinamente humanas, tanto as positivas, quanto as negativas. E, cada vez mais, empresas são humanizadas e precisam ser reconhecidas como tal. Ao mesmo tempo, existem pessoas cada vez mais desumanizadas, que sustentam objetivos puramente superficiais e interesses individuais e, consequentemente, estão mais suscetíveis à crise de imagem. A ligação entre uma e outra é intrínseca. Empresas têm que refletir o que pessoas têm de melhor e muitas pessoas deveriam espelhar o gerenciamento de sua vida pessoal e de negócios na gestão de determinadas empresas.

Katia Pula disse...

Olá, Bruno. Adorei seu post, viu?!
Realmente, todos estamos sujeitos a crises... “Isso nunca vai acontecer comigo” é uma grande ilusão.
Mas, acho que vale comentar que nunca se sabe quando e quanto uma crise vai impactar na “saúde” da marca. E, apesar de serem exceções, as vezes elas trazem danos menores do que se espera. Ou eles só aparecem ao longo do tempo. Nesse caso, acho que a imagem fica igual a um móvel de madeira com cupins. Sem que se deem conta, as coisas estão acontecendo e, caso haja demora na descoberta dessa realidade, as consequências serão irremediáveis...
Escrevo tudo isso porque o 3º ano da pesquisa "O mercado do luxo no Brasil” da GfK e MCF, um estudo referência no mercado, demonstra que a Daslu é Top of Mind de marcas nacionais de luxo, bem como é considerada a mais prestigiosa do Brasil e a 2ª mais tradicional, perdendo só para H.Stern...
Acredito que a força da marca e as ações do passado pesaram para que as coisas não ficassem tão feias, né?! Não sei se a Daslu está seguindo um plano de gerenciamento de crise, mas... Acho que só o futuro nos dirá se é uma imagem “cheia de cupins” ou se ela superará tudo isso.