O processo de estruturação e combate à nova gripe vem trazendo uma série de lições extremamente valiosas para quem quer que se aventure a administrar uma crise junto à opinião pública. Ele teve seu início com a comunicação oficial da OMS – Organização mundial da Saúde, sobre os riscos que a nova gripe representava – especialmente o fato de se transformar numa pandemia incontrolável, com alto índice de mortalidade, colocando em alerta todos os Ministérios de Saúde de mais de uma centena de países.
Some-se a isto a divulgação dia-a-dia da evolução do número de casos, da mortalidade, da disseminação da doença e teremos, logo de início, uma situação que já se apresentava crítica. No Brasil, o Ministério da Saúde agiu rápido. Foi aos meios de comunicação de massa, procurou esclarecer a população e os profissionais de saúde, utilizou todas as ferramentas disponíveis para estabelecer um programa de ação e de combate – incluindo twitter e mídias sociais – e a imprensa abraçou esta pauta, atribuindo-lhe pleno destaque em todos os noticiários.
Na sua busca por fontes especializadas, porém, encontramos os primeiros problemas. Em alguns casos, informações contraditórias. Em outros, um nível de conhecimento técnico e palavreado incompatível com a capacidade de compreensão do espectador. Em outros, ainda, a exposição de situações geradoras de insegurança – como explicar a divulgação de casos fatais dias depois de terem acontecido sem passar a impressão de que a situação está absolutamente fora de controle?
Some-se a isto a falta de estrutura do serviço público de saúde e o medo da população ante uma ameaça à vida de seus filhos e entes queridos, e temos, já, uma crise que a cada dia ganha em impacto e proporções. Os brasileiros em geral não cuidam preventivamente da saúde. Utilizar o serviço público, convênios ou atendimento particular, acaba estabelecendo sempre o mesmo modus operandi: dirigir-se ao pronto-socorro, atendimento de urgência. Isto acaba por gerar um problema adicional, pois mantém pessoas efetivamente doentes – não necessariamente portadores do vírus da gripe – junto a pessoas que estão apenas procurando um diagnóstico para saber se têm ou não a doença. Na grande maioria dos casos, não têm, mas acabam saindo dessa espera de horas com alguma seqüela – nem que seja a desconfiança de que não tenha sido atendido com a atenção esperada.
Esta crise expõe as mazelas do serviço público de saúde, em que pese o permanente trabalho de divulgação do grupo de controle desta pandemia, ao mostrar postos sem profissionais, falta de estrutura e informação por parte de funcionários mal preparados, mal-educados, exaustos e sem condições materiais de atendimento, aumentando a carga de insegurança da população.
Medidas adicionais vêm sendo implantadas, com a instalação de centros de triagem - destinados a isolar os suspeitos de portar o vírus - que podem contribuir para desafogar o serviço público. Resta saber se terão sucesso, porque, num país em que um número muitíssimo maior de pessoas se contamina e morre diariamente por causas como mal de Chagas, desinteria, desidratação infantil, tuberculose – que voltou após ter sido erradicada – e tantas outras mazelas, é indispensável que o atendimento à saúde dos brasileiros esteja disponível ao menos como era antes deste surto.
Não significa que o governo deva simplesmente desconsiderar a AH1N1. Há profissionais competentes fazendo o possível para controlar a situação, até a descoberta de uma vacina eficaz, mas é igualmente essencial que a população tome suas atitudes para, com medidas muito simples de higiene – lavar as mãos com freqüência, por exemplo – contribuir para dificultar o avanço desta pandemia.
Tratar o assunto de maneira mórbida só vai aumentar o pânico. Esclarecer e contar com o apoio da população pode ser a resposta que todos esperamos.
Flavio Valsani é Diretor Executivo da LVBA Comunicação.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
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4 comentários:
A grande agravante a esta situação de procura do serviço público de saúde é que 75% da população brasileira não possui plano de saúde e o serviço público é a única alternativa.
Outro ponto é que o sistema de saúde não é apenas procurado pela gripe.
Os números da Bahia relativos à Dengue, Estado onde estive recentemente, estão assolando e matando também de forma significativa. Nenhum jornalista até o momento levantou esta questão. Um quadro que compare a situação de Dengue no Brasil, versus a gripe suína, do porco, Influenza A ou seja lá quais os próximos nomes a serem criados.
Vale a pena comparar Dengue versus Influenza A.
Complementando meu comentário anterior, fontes oficiais recentes indicavam quedas importantes no número de casos da Dengue na comparação dos primeiros cinco meses deste ano com o mesmo período do ano passado. Eram 266.000 casos com taxa de letalidade de 6%. Logo, os números da Dengue deveríam ser mais alarmantes do que os da Gripe Influenza A para a população do nosso país.
Você tem razão, Roseli. Só em 2009, a dengue ganha de goleada - com o agravante de necessitar de uma participação mais complexa por parte das pessoas do que apenas lavar as mãos com freqüência...
Campanhas de orientação não podem ser consideradas despesa, mas investimento...
Grato pelos comentários
Descobri que Influenza tava aumentando e muito forte, quando teve um caso de morte perto da minha cidade e em seguida recebi um SMS da minha operadora de celular dando dicas de como se proteger.
Abraços,
Maira - MakeCom
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