Digo logo de início que não sou especialista em administração de crises. Aliás, cruzes, se eu tiver de enfrentar uma, certamente chamaria a LVBA ou alguma outra agência com essa estatura e tradição para me socorrer. Mas creio que posso dar um depoimento num sentido talvez mais filosófico ou da pragmática de nossa atividade.
Não existe no mundo, até onde conheço, outra escola de relações públicas tão fortemente influenciada pelo jornalismo, como a brasileira. E foi graças a essa influência que desenvolvemos por aqui um know how próprio que deu às nossas agências, de certo modo, “cara de conteúdo”.
Ora, tenho aprendido em anos de vivência, com nossas próprias agências, que ações preventivas podem evitar a chegada da crise, mas que, uma vez instalada, ela precisa ser tratada com transparência, ética, rigor informativo, agilidade, para minimizar o estrago.
Influenciadas pelo espírito jornalístico, que se deveu à acentuada migração de profissionais com essa formação para a comunicação corporativa, seja diretamente nas organizações, seja nas agências, as técnicas de relações públicas priorizaram instintivamente as características daquela atividade, adicionando-as às técnicas convencionais de relacionamento com os vários públicos.
Nesse sentido, conteúdo é a palavra chave e talvez um dos elementos essenciais do sucesso de grande parte das ações do universo corporativo brasileiro, junto aos seus vários públicos de interesse, especialmente a mídia. Essa é quase uma condição sine qua non para qualquer ação de comunicação que se queira desenvolver. Se tiver conteúdo, tem ação; se não tem...
Discernir e qualificar bons conteúdos são tarefas para profissionais preparados e aí o jornalismo ganha força. Quando ele se associa às técnicas re relações públicas, ambos se fortalecem e ganham sustância e argumentos para enfrentar todos os cenários, inclusive os desfavoráveis, advindos de alguma crise.
Hoje o mundo é tão complexo e os ambientes e comportamentos sociais tão diferenciados, que outras matérias, segundo várias personalidades do mundo da comunicação asseguram, começam a ganhar relevo no mundo da comunicação, caso da sociologia, da antropologia, das letras jurídicas etc.
Mas qualquer que seja a evolução penso que ela sempre privilegiará o conteúdo e é só ver o que se passa com a internet nos dias atuais, com a força da chamada mídia social, para se dar conta desta minha afirmação. Se estamos entrando na era das pessoas, da personalização, em detrimento da era da comunicação de massa, o conteúdo de qualidade passa a ter um valor ainda mais inestimável para o sucesso das ações, quaisquer que sejam elas.
Creio que ao abraçar alguns dos valores do jornalismo, a Comunicação Corporativa e Institucional saiu-se vencedora e hoje é certamente benchmarking para outras escolas mundiais. Somos, afinal, pioneiros.
Numa crise, sobretudo com desdobramentos na mídia, nada mais adequado do que usar as mesmas ferramentas e valores que ela usa, para dialogar. Isso não muda de modo algum a verdade dos fatos, mas amplia as chances de uma organização ser ouvida com mais atenção e boa vontade e, mais ainda, de ser entendida.
Eduardo Ribeiro é Diretor do Jornalistas & Cia
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
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2 comentários:
O texto do Edu é interessante, contemporâneo e mostra o hibridismo de uma comunicação que só se multiplica em habilitações na estrutura do Ministério da Educação, porque no mercado é tudo uma coisa só liderada por bons comunicadores. De toda maneira, me fica a dúvida (espero não instalar nenhuma crise no post...): diante de tanta consciência liberalizadora, como os jornalistas desejam ter um Conselho Federal que restringe absurdamente as atuações e negligencia exatamente esta pluralidade? Como relações públicas que sou, me vejo pensando com desregulamentar minha profissão se outros desejam exatamente o fechamento de mercado?
Rodrigo,
Também achei interessante a abordagem dada pelo Edu ao tema. E também concordo com você quando você diz que no mercado o que conta é a competência (ou melhor: a soma das competências). E digo que já pensei em desregulamentação para RP e, por conta desta tendência à regulamentação, penso mais numa regulamentação mais adequada ao presente, que seja integradora e não limitadora como é a nossa atual legislação.
Abraços
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