segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Depois da crise

Vou pegar carona no comentário do Nassar e fazer uma reflexão sobre o que nos sobra após as crises.

Depois de onze anos na indústria farmacêutica, sinto-me quase 'descolada'. Já perdi a conta do número de crises que o setor sofreu, somado às crises específicas de cada empresa.

Os aprendizados vieram em número quase equivalente: adotamos uma postura mais aberta de diálogo com a sociedade, fazemos um rigoroso gerenciamento de risco, temos porta-vozes preparados, informamos funcionários em primeira mão, melhoramos continuamente a governança corporativa e o rigor no cumprimento da ética no dia-a-dia dos negócios, e assim por diante.

Porém, nem tudo é perfeito. Ainda temos que avançar muito nesse diálogo para ter uma discussão mais equilibrada sobre a contribuição deste setor no desenvolvimento da economia e, por que não dizer, para a qualidade de vida das pessoas. A expectativa de vida cresceu sobremaneira em muitos países por conta do avanço da medicina diagnóstica e de tratamentos inovadores, algo que seria impossível sem o investimento desse setor da saúde.

Do ponto de vista de quem administra a crise, o maior custo é emocional. Não há quem não sofra: quem se sente atingido, os executivos, os funcionários, os acionistas... Temos que ter bastante competência emocional para passar por uma crise, gerenciá-la adequadamente e não deixar a empresa em frangalhos.

Em minha opinião, o momento do furacão é apenas um entre vários que precisam da atenção da Comunicação. O monitoramente sobre o que é dito pela imprensa precisa ser constante, pois o volume de incorreções é gigante. Outro dia abri aleatoriamente um livrinho do Valor Econômico recém publicado e lá estava a Merck Sharp & Dohme (na verdade, tratava da Medco, uma empresa provedora de serviços de saúde que fazia parte da Merck antigamente) servindo de mau exemplo na maquiagem de balanços fiscais. Essa notícia é de 2002, foi completamente esclarecida (um jornalista americano interpretou mal o balanço e causou um transtorno sem precedentes para a empresa) e a SEC americana, ainda naquela época, determinou que todos os balanços de provedoras de saúde fossem feitos exatamente da forma como a Medco fazia.

O exemplo fiscal e contábil venceu, mas a imagem ficou riscada até hoje. Infelizmente, não foi a menor... Qualquer outro dia eu conto outras histórias que ainda me arrepiam os cabelos!

Viviane Mansi é professora da Fundação Cásper Líbero e Gerente de Assuntos Corporativos da Merck Sharp & Dohme

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Viviane, participar ativamente do setor farmacêutico deve ser um grande desafio para um profissional de comunicação.

De fora, entendo que este segmento - bastante sensível e de enorme interesse público - ainda tem um longo caminho até conseguir, efetivamente, estabelecer canais francos de diálogo com a sociedade.

É notório o esforço de algumas empresas do setor para se relacionarem de forma aberta com seus públicos. É o caminho para que a incidência de crises também diminua.

Obrigado pelo artigo, Rodrigo Padron

Bruno Carramenha disse...

Não dá pra nós, profissionais de comunicação, negarmos que as crises existem sempre.
Sejam crises gerais, que atingem todos os setores, como as que estamos vivendo, ou específicas de apenas uma empresa, o fato é que - se não estivermos em uma crise - estamos na iminência de uma.
Temos mesmo é que aprender com elas! O melhor de tudo é quando compartilhamos nossos aprendizados, e você faz isso muito bem!