quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"O que é, é" e "o que não é, não é"

Muito tem se falado sobre as redes sociais e como políticos e a gestão pública tem utilizado as diversas ferramentas disponíveis na Internet. Mas é importante pensar sobre o quanto a transparência - ou pelo menos uma proposta de agir assim - assusta às pessoas. A Prefeitura de São Paulo teve duas iniciativas bastante ousadas este ano. No mês de junho lançou o Portal "De Olho nas Contas". É o portal de transparência da administração municipal, onde é possível acompanhar as ações da Prefeitura e saber como os recursos são aplicados. Informações como contratos e liquidações, assim como a folha de pagamento dos servidores, ficam à disposição para consulta da população. No começo de julho, a Secretaria de Modernização, Gestão e Desburocratização através de uma portaria, permitiu o acesso a redes sociais e canais de comunicação, como Twitter e MSN, a todos os servidores municipais. E a ideia é que os funcionários comecem a utilizar essas redes também como meio de aproximação dos cidadãos, permitindo maior interatividade das secretarias e de seus funcionários com o público. Apesar da possível vulnerabilidade da rede e perda de performance do acesso a Internet, pois falamos de cerca de 160.000 usuários, a proposta de abrir canais de comunicação falou mais alto. O mais interessante foi poder disseminar o uso responsável de redes sociais.

A velocidade que se incorpora novas tecnologias é muita rápida e as pessoas tendem a esquecer o curto espaço de tempo em que as usufruímos em nosso novo mundo digital. O Twitter, de julho para cá, virou a nova moda e esse é o maior perigo. O uso corporativo pede uma evolução maior do que qualquer profissional de comunicação possa planejar. Tudo é muito rápido e erros e acertos são percebidos quase que instantaneamente. O fato é que o mundo parece estar de janelas abertas, tanto no coletivo quanto no individual.

O mais engraçado de toda esta situação é que parece que não estamos acostumados com a verdade e a transparência. E mais engraçado ainda é que justamente o dito "mundo virtual" é que justamente propicia consultas e até pesquisas de informações absolutamente confiáveis. Mentiras e manipulações vão sempre acontecer, mas será que não nos acostumamos com isso? Será que não interiorizamos nossa percepção de verdade como uma exceção?

Muitos políticos dentro de suas funções executivas ou legislativas usam o Twitter como ferramenta administrativa e de prestação de contas. Alguns deles ensaiam mostrar um pouco de sua vida pessoal, o que é muito bom, pois humaniza e esquenta esse dinâmico relacionamento via Internet. Neste cenário, os "tuitteiros" de plantão esboçam sempre críticas diretas que não passam de puro julgamento ideológico ou preconceituoso. "Poxa! O cara só fala do mesmo assunto sempre", é um dos comentários mais comuns. Bem, estranho seria se falasse de assuntos que não domina. Se a proposta é prestar contas e informar sobre seu trabalho, o que há de errado? Discordar e debater faz parte de uma postura democrática! Existe uma opção para esses "reclamantes". Seja seguidor de quem você avalia que deva ser seguido. Isso sem esquecer da recente máxima do Twitter que reforça nossa imagem virtualmente pública: diga-me quem segues e te direis quem és.

Após quase três meses de lançamento do "De Olho nas Contas" muito se questiona sobre sua funcionalidade e fidelidade das informações. Por que será que justamente quando uma prefeitura pioneiramente se dispõe a se mostrar por inteiro, mais do que as informações, o formato acaba sendo questionado justamente pela imprensa? Um intenso trabalho de Assessoria de Imprensa deixou claro que esse era um projeto em evolução e foi lançado com bases de informações que são constantemente ampliadas e aperfeiçoadas. Algumas pautas chegam a beirar a ingenuidade ou despreparo. Porém, a Revista Veja (24 de junho de 2009 - Edição 2118), no lançamento desse portal, fez uma importante matéria com o título: "A locomotiva dá o exemplo". A Internet é a vastidão incontrolável dos meios de comunicação. E ditados populares, como "a mentira tem perna curta" e "a verdade sempre aparece" ficam potencializados. Ou rapidamente, "o que é, é" e "o que não é, não é".


Rubens Alves Júnior é publicitário, especialista em Teoria da Comunicação e professor universitário. É assessor chefe de comunicação e marketing da PRODAM.

3 comentários:

Marcel Andrade Paulo disse...

Realmente a Prefeitura de São Paulo deu dois passos importantes para que a cidade seja cada vez mais uma “Cidade Digital”, como a atual gestão vem se esforçando, e atingindo importantes objetivos, para tal denominação.

Os dois exemplos expostos neste artigo mostram exatamente isso, ou seja, a digitalização se tornando um fim, não tão só um meio, para se atingir uma comunicação mais ampla com a população, ou seja, com os eleitores.

Num mundo onde todos podem criar seu blog, expor suas opiniões de modo ampla e aberta, e onde todos passam a ser “formadores de opinião”, o acesso a dados mais explícitos facilita tudo. Explico.

Com o “De Olho nas Contas” a Prefeitura pode não ter agradado a todos os servidores públicos, como foi noticiado deveras vezes pela mídia, mas sem dúvida agradou em cheio aqueles que pagam os salários e benefícios de toda a repartição pública, os cidadãos. Daí, o que sempre questionei frente a esses contrários a esta “revolução” é que ser funcionário público tem-se o ônus de dar satisfação, sim, a sociedade, e uma dessas satisfações é deixar que a sociedade saiba exatamente o quanto se investe em cada servidor. Isso é tudo? Ainda não, mas é um passo extremamente importante para mostrar a sociedade o comprometimento com a transparência pública.

Não é questão de partidarismo, ou ideologia Democrata, não se trata disso. O que quero expor nessas poucas linhas, é que a atual gestão se empenha em transformar São Paulo, numa cidade cada vez mais digital, o que é uma tendência em todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Temos que concordar que foi um acerto o De Olho nas Contas. Mas, claro que nunca uma atitude irá agradar a todos. Isso é fato. Nem Jesus conseguiu tal feito, não será uma gestão pública. O ideal é termos na cabeça que agradar a maioria é princípio básico de uma boa política pública, e isso foi feito com certeza.

Sobre o Twitter acho bárbaro que se tenha disponibilizado aos servidores essa ferramenta virtual. Desde que o funcionário público saiba o momento certo de postar seus comentários, e não deixem o trabalho de lado só para se dedicar a novas postagens, não vejo problema algum, afinal, muita coisa importante que políticos fazem não são divulgados, e através desta ferramenta a população tomará conhecimentos e se deixará informar por outros meios, que não os mais tradicionais, como jornais, revistas, sites noticiosos e rádio.

Parabéns pelo artigo Rubens, muito bem exposto, e cabe a nós a reflexão sobre o uso da Internet para o bem geral da nação.

T. Mattos disse...

Realmente o “De Olho nas Contas” desagradou o funcionalismo público, porém , mostrou como a tecnologia é uma ferramenta importante para democracia e transparência. Uma iniciativa tão simples, que firmou a polítca de transparência da prefeitura, sendo copiada por todo o país.

Parabéns pelo artigo Rubens, pois ressalta a importância da tecnologia na nova sociedade.

Unknown disse...

Excelente texto rubens, é isso mesmo.

Abs,

André Telles