“Água no umbigo, sinal de perigo!” A advertência do salva-vidas nas praias é a evidencia de uma sabedoria: a água sobe aos poucos. Assim como as marés a crise também é um momento de ruptura anunciada.
A crise de imagem é a ameaça à perda do mais importante ativo de uma pessoa ou de uma organização: a sua reputação. A imagem é a atribuição de qualidades ou defeitos a alguém ou a alguma coisa, que não são necessariamente verificados objetivamente. A reputação é a percepção de ganhos adicionais proporcionados por alguém ou por uma organização, além das suas obrigações contratuais. Sendo assim, uma boa reputação não se resume a prestação do serviço contratado, mas diz respeito aos os benefícios produzidos além desse contrato.
Marcas, na sua essência visam sintetizar reputações. Reputações fortalecem a imagem. Imagem, reputação consolidam relações de confiança.
A crise é essencialmente a perda de confiança na relação entre a pessoa ou organização com os seus públicos de relacionamento. Na prática é quando as ações deixam de se identificar com discurso.
A crise sempre será o reflexo de uma falha no processo de gestão, seja na coleta de informação, no seu processamento, na execução das ações e nos resultados obtidos. As ações são percebidas com a materialização do discurso. A fala das pessoas e das organizações não produz, sozinha, vínculos com os públicos. As ações sim. Elas são sempre comparadas às palavras - declaração de missão e de valores, organizados para demonstrar os compromissos éticos, responsabilidade e qualidade na prestação de serviço e nos relacionamentos.
O árduo trabalho da recuperação da confiança de uma organização ou de uma pessoa vítima de uma crise de imagem parte, como todo tratamento, do reconhecimento das próprias vulnerabilidades. Não se trata de fazer um “mea culpa” público, um gesto de auto flagelamento. A recuperação eficaz depende essencialmente do diagnóstico interno em relação à necessidade de revisão de processos.
Na crise de imagem é dada uma atribuição pública de responsabilidade a alguém, por ações danosas, por inépcia, deslealdade, imoralidade, incompetência ou ilegalidade. Geralmente a crise de imagem surge pela divulgação de uma notícia ou reportagem em que alguém, uma empresa ou instituição são citadas de forma negativa.
Antes de uma notícia ser publicada é de praxe que o jornalista responsável procure a pessoa para responder as acusações – sim, sempre há acusações, ou pelo menos existe ceticismo do repórter que quer esclarecimentos.
Mais do que em qualquer outra situação, a resposta a uma iminente publicação de notícia ruim deve ser rápida. Deve-se evitar ter “todas as informações” antes de falar com a imprensa. Esse é um erro recorrente. A resposta deve ser apresentada com o que for possível o que se souber, e o que não se souber, deve-se dizer que não se sabe, ainda. Mas pecados dos pecados... não se deve esperar que uma crise definhe por si mesma. Isso não vai acontecer.
As relações com a imprensa durante uma crise potencializam as dificuldades que marcam o relacionamento entre a fonte e o jornalista, mas a própria crise é uma oportunidade para desenvolver as bases desse contato por meio de respostas rápidas, claras, dentro do tempo necessário para o profissional de comunicação realizar o seu trabalho.
A capacidade de responder rapidamente é crucial para reduzir o impacto negativo de uma situação. Jornalistas variam bastante na maneira como respondem a situações ainda incertas. Alguns jornalistas vêem que a informação passada, ainda que incompleta, é uma demonstração de transparência, outros são mais desconfiados quanto à linguagem.
Portanto, responder os telefonemas dos jornalistas, mesmo quando o tempo é curto e a informação incompleta, ajuda a compreender a extensão de problemas que estão por vir. A maré não deixa de subir simplesmente porque enterramos a cabeça na areia.
Olga Curado é jornalista e consultora de comunicação, fundadora da Curado & associados Consultores.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário