Gisele Lorenzetti (*)
No artigo anterior, defendi que a atividade de RP nunca esteve tão em alta como nos dias de hoje. Para comprovar este fato, listei alguns exemplos e poderia, aqui e agora, listar outros tantos... Mas, querem saber? Não farei isso.
Minha proposta foi a de promover a discussão: por que nós, profissionais de RP, não somos tão reconhecidos e valorizados se nossa atividade mostra-se tão importante e, de certa forma, presente nas organizações?
Mas antes de entrar de sola nessa seara, quero abrir um parênteses. Das 14 manifestações geradas pelo post, uma chamou muito a minha atenção. O estudante de RP Alexandre afirma estar arrependido por ter escolhido o curso... Quero, então, pedir licença aos demais leitores, para fazer aqui um breve desvio da proposta inicial e, como profissional veterana, ajudá-lo:
Caro Alexandre,
Ainda dá tempo de mudar esta percepção. Você só precisa entender que a faculdade, seja ela qual for, só erra em duas ocasiões: No primeiro dia de aula, quando deveria contar aos alunos que, a partir daquele momento, a relação estudante/instituição de ensino será totalmente diferente e que eles não terão mais 100% do conhecimento vindos da escola, como ocorreu até então, nos ensinos fundamental e médio. Da faculdade você receberá cerca de 60% da sua formação e, caberá a você, ir em busca dos 40% restantes. A faculdade peca, novamente, no último dia de aula, quando não alerta o graduando que aquele não é o fim e sim o começo de uma nova fase e que a busca pelo conhecimento é contínua. Saindo da faculdade você perceberá quais são as áreas que complementarão a sua formação para investir nas especializações, MBAs, strictu sensu, etc.
Então, Alexandre, não desanime – nem do seu curso e nem da profissão. Bola pra frente!
Atenciosamente, Gisele
Agora, voltando ao tema do artigo de hoje, quero fazer referência a outro comentário provocado pelo post e que tende a acrescentar, de forma bastante positiva, para nossa discussão. A Mayline Monteiro, “quase formanda” em Relações Públicas, conta que leu num livro um argumento que comprova a importância de uma boa gestão de relacionamento nas empresas: “Custa cinco vezes mais atrair um cliente novo do que manter um antigo”. Mayline, parabéns pela conclusão e pela citação. Acho que aqui temos a resposta aos motivos das nossas dificuldades.
Muitos choram porque profissionais de marketing, assim como de outros segmentos, estão ganhando espaço em áreas de RP. E por que isso acontece? Sei que minha resposta pode não agradar, mas com certeza reflete o que penso e, principalmente, o que acompanhei nestes anos todos no mercado:
Estes profissionais falam a linguagem dos empresários. Seu discurso tem como argumento o negócio, as estratégias corporativas e a busca por resultados. E não é só o discurso, não. As ações, em sua maior parte – mesmo as que julgamos como ações de RP – têm esta apresentação.
Quantas vezes conseguimos reunir argumentos – junto aos nossos chefes ou clientes – tão firmes como o da estudante Mayline? Ela soube defender com precisão que a organização deve investir na gestão de relacionamento com seus clientes porque é mais rentável. E querem saber? É isso que as organizações querem ouvir e é isso que devemos vender. Isso é a base de RP – é o que aprendemos na faculdade e não conseguimos fazer para nós mesmos: adaptar a mensagem ao público.
A edição 29 ( Julho-Setembro 2010) da revista Mundo Corporativo traz um artigo bastante interessante sob o título “Identidade Virtual”. Com dados do estudo “Midias sociais nas empresas – o relacionamento online com o mercado”, produzido pela Deloitte, consultoria de negócios que edita a publicação, o artigo relata que em 73% das empresas, as iniciativas nas mídias sociais ficam sob a administração da área de Marketing e chama a atenção para o “aparente pequeno envolvimento das diretorias e dos departamentos de comunicação com essas mídias (cerca de 6%), embora, muitas vezes, essa área esteja atrelada ao próprio departamento de marketing das empresas”.
Para piorar um pouco mais o cenário (Sim! É pior do que se pode imaginar): 85% das empresas consultadas têm como primeiro objetivo para interagir com seus públicos nas redes sociais, aumentar a reputação da marca! Ou seja, falamos aqui de um objetivo legítimo de RP: agir a fim de gerar boa reputação de marca.
Mas se querem saber, se por um lado este dado é triste, já que demonstra que estamos excluídos do processo de gestão de relacionamento nas mídias digitais, por outro deve nos servir como estímulo.
É isso mesmo! Em vez de nos deprimir, este cenário negativo deve estimular a prática do pensar e, de uma vez por todas, abrir espaço para que possamos reinventar nossas estratégias. Ainda é tempo, mesmo porque gestão de mídias sociais é uma atividade nova e ainda podemos ter um papel fundamental nesta história.
Admito que esta não é uma tarefa das mais fáceis. Imagino que, neste exato momento, alguns de vocês estejam pensando em algo como “Mas, Gisele, o que preciso fazer para participar de maneira mais efetiva deste processo?”. Para isso, farei mais uma provocação:
Será que nossos argumentos para levar uma organização a investir nas redes sociais estão adequados? E mais: será que estamos oferecendo resultados tangíveis ou apenas promessas?
Não vou conseguir concluir o assunto neste segundo artigo. E vou continuar investindo na troca de idéias. Então, vamos à “lição de casa” da semana.
É fato: precisamos desenvolver um planejamento estratégico para nossa atividade. E, como sabemos, todo bom planejamento começa com a montagem de um quadro SWOT – aquele que traduz o cenário em pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças.
É a análise desses pontos que permitirá a criação de um plano de ação. Então, colegas, mãos à obra. Vamos usar os comentários para listar:
- Pontos fortes – o que temos a nosso favor;
- Pontos fracos – o que existe e não é favorável ao desenvolvimento da nossa atividade;
- Oportunidades – o que existe para crescermos, desenvolvermos nossa atividade profissional;
- Ameaças – o que ameaça o nosso desenvolvimento.
Não é fácil, mas se conseguimos montar isso para nossas organizações e nossos clientes, seremos também capazes de montá-lo para nós.
Mãos à obra, boa semana e até o próximo artigo!
Gisele Lorenzetti é profissional de Relações Públicas e diretora executiva da LVBA Comunicação. Foi conselheira do Conrerp-2ª Região (Conselho Regional de Profissional de Relações Públicas) durante três gestões e fundadora e diretora da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação).