quinta-feira, 30 de julho de 2009

Um violão muito famoso

Você gosta de country music? Mesmo que não goste, convido você a ouvir e assistir essa aqui – certamente, mais que uma música mas, ao que tudo indica, o estopim de uma crise para a United Airlines. Ah, um alerta: a música “pega” – é daquele estilo que, não por acaso, quando você percebe está cantarolando, baixinho “Unitedddddddd, you broke my Taylor Guitar...”.

Cantorias a parte, vamos aos fatos. Dave Carroll, um compositor de músicas pop, rock, country e folk de Halifax (confesso minha ignorância mas até assistir a este vídeo eu não sabia que Halifax é uma cidade portuária do Canadá), numa de suas viagens de Halifax para Chicago, pela United Airlines, despachou seu violão que, por falta de cuidados da companhia aérea, foi danificado. Depois de diversas tentativas frustradas de obter, da United, uma solução para seu problema, optou por produzir um clip sobre seu drama e o postou no Youtube.

E aí começa a crise. Em dez dias, o vídeo já tinha sido exibido mais de 3,5 milhões de vezes. Hoje, pouco mais de 20 dias após a postagem, o vídeo contabiliza mais de 4,3 milhões de vezes. Efeito imediato: o vídeo foi parar na imprensa. Tanto a CNN como a Fox News deram destaque à notícia, sendo que esta última, numa matéria com duração de quase 3,5 minutos, apresenta, além de uma longa entrevista com o próprio Dave Carroll, uma resposta da United. No texto, a empresa reconhece o erro e ainda comenta que o vídeo será usado nos treinamentos da equipe a fim de garantir que os clientes recebam os melhores serviços.

Mas o desdobramento não parou por aí. A United, finalmente, entrou em contato com o Dave Carroll, como ele mesmo diz, “um pouco tarde”. E isso foi motivo para ele produzir um outro vídeo, onde comenta a surpresa que tem sido a repercussão do primeiro vídeo e conta a conversa que teve com a United, enfatizando que não buscou recompensas e que deixa o dinheiro oferecido pela companhia para que eles doem à entidade assistencial que preferirem. Este segundo vídeo tem uma audiência infinitamente inferior ao primeiro: em 20 dias, perto de 180 mil exibições.

Bob Taylor, da Taylor Guitar, também postou um vídeo, lamentando o ocorrido e lembrando que em seu website existem dicas que ajudam donos de violões a transportarem seus instrumentos com segurança. No mesmo site, há um press release convidando a imprensa para uma entrevista com Dave Carroll, no dia 20 de julho, data na qual o músico visitaria a fábrica.

Desnecessário comentar que no twitter há centenas de citações sobre este episódio – uma delas, inclusive, da signatária deste artigo.

Não vou analisar a postura da United Airlines no gerenciamento desta crise, afinal sou expectadora e seria pouco profissional da minha parte analisar sem conhecer todos os fatos. Meu objetivo é outro. Vendo mais um case de crise que se alastrou e tomou proporções realmente críticas graças a web 2.0, lembro de uma norma nada digital ou tecnológica: previnir é melhor que remediar. Fazer certo da primeira vez, ter sistemas que atendam – de verdade – o cliente, ver em cada consumidor um potencial campeão de audiências no Youtube (isso para só falar em Youtube) ainda é a melhor forma para não transformar um mero dano de bagagem em uma música que insiste em ficar no ouvido – “Unitedddddddd, you broke my Taylor Guitar...”.


Gisele Lorenzetti é Diretora Executiva da LVBA Comunicação.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

AH1N1. De uma ameaça distante ao pânico incontrolável...

O processo de estruturação e combate à nova gripe vem trazendo uma série de lições extremamente valiosas para quem quer que se aventure a administrar uma crise junto à opinião pública. Ele teve seu início com a comunicação oficial da OMS – Organização mundial da Saúde, sobre os riscos que a nova gripe representava – especialmente o fato de se transformar numa pandemia incontrolável, com alto índice de mortalidade, colocando em alerta todos os Ministérios de Saúde de mais de uma centena de países.

Some-se a isto a divulgação dia-a-dia da evolução do número de casos, da mortalidade, da disseminação da doença e teremos, logo de início, uma situação que já se apresentava crítica. No Brasil, o Ministério da Saúde agiu rápido. Foi aos meios de comunicação de massa, procurou esclarecer a população e os profissionais de saúde, utilizou todas as ferramentas disponíveis para estabelecer um programa de ação e de combate – incluindo twitter e mídias sociais – e a imprensa abraçou esta pauta, atribuindo-lhe pleno destaque em todos os noticiários.

Na sua busca por fontes especializadas, porém, encontramos os primeiros problemas. Em alguns casos, informações contraditórias. Em outros, um nível de conhecimento técnico e palavreado incompatível com a capacidade de compreensão do espectador. Em outros, ainda, a exposição de situações geradoras de insegurança – como explicar a divulgação de casos fatais dias depois de terem acontecido sem passar a impressão de que a situação está absolutamente fora de controle?

Some-se a isto a falta de estrutura do serviço público de saúde e o medo da população ante uma ameaça à vida de seus filhos e entes queridos, e temos, já, uma crise que a cada dia ganha em impacto e proporções. Os brasileiros em geral não cuidam preventivamente da saúde. Utilizar o serviço público, convênios ou atendimento particular, acaba estabelecendo sempre o mesmo modus operandi: dirigir-se ao pronto-socorro, atendimento de urgência. Isto acaba por gerar um problema adicional, pois mantém pessoas efetivamente doentes – não necessariamente portadores do vírus da gripe – junto a pessoas que estão apenas procurando um diagnóstico para saber se têm ou não a doença. Na grande maioria dos casos, não têm, mas acabam saindo dessa espera de horas com alguma seqüela – nem que seja a desconfiança de que não tenha sido atendido com a atenção esperada.

Esta crise expõe as mazelas do serviço público de saúde, em que pese o permanente trabalho de divulgação do grupo de controle desta pandemia, ao mostrar postos sem profissionais, falta de estrutura e informação por parte de funcionários mal preparados, mal-educados, exaustos e sem condições materiais de atendimento, aumentando a carga de insegurança da população.

Medidas adicionais vêm sendo implantadas, com a instalação de centros de triagem - destinados a isolar os suspeitos de portar o vírus - que podem contribuir para desafogar o serviço público. Resta saber se terão sucesso, porque, num país em que um número muitíssimo maior de pessoas se contamina e morre diariamente por causas como mal de Chagas, desinteria, desidratação infantil, tuberculose – que voltou após ter sido erradicada – e tantas outras mazelas, é indispensável que o atendimento à saúde dos brasileiros esteja disponível ao menos como era antes deste surto.

Não significa que o governo deva simplesmente desconsiderar a AH1N1. Há profissionais competentes fazendo o possível para controlar a situação, até a descoberta de uma vacina eficaz, mas é igualmente essencial que a população tome suas atitudes para, com medidas muito simples de higiene – lavar as mãos com freqüência, por exemplo – contribuir para dificultar o avanço desta pandemia.

Tratar o assunto de maneira mórbida só vai aumentar o pânico. Esclarecer e contar com o apoio da população pode ser a resposta que todos esperamos.


Flavio Valsani é Diretor Executivo da LVBA Comunicação.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Da coluna social às páginas policiais – As crises de luxo

Assistimos nesta semana a mais um escândalo envolvendo milionários em (supostos) esquemas fraudulentos. Desta vez, a empresária Tania Bulhões, proprietária de uma luxuosa loja de móveis e decoração que leva o seu nome, foi o alvo de uma operação liderada pela Receita Federal. A empresária está sendo acusada por crimes de evasão de divisas, descaminho (importação de produtos sem pagamento de tributos), formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.

É inevitável, com este caso, lembrar do acontecido com a Daslu, em 2005. Ícone do luxo e da elite paulistana, a loja foi investigada por crimes similares e seus proprietários chegaram a ser presos, inclusive, acusados de importação irregular.

Desconheço outros detalhes destes casos, mas a apuração jornalística não é o objetivo deste artigo. O que cabe aqui é a reflexão sobre os abalos de uma crise, mesmo a quem acha que está acima do bem e do mal. Em ambos os casos, claramente, a crise foi deflagrada por uma combinação de três fatores presentes na cultura brasileira: o “Isso nunca vai acontecer comigo”, o “Não há nada que o dinheiro não pague” e o “Você sabe com quem está falando?”.

Não tenho a intenção de ser óbvio e concluir que criminosos têm mais chances de passar por uma crise. A questão é muito mais sobre o primeiro fator. Aquela certeza que alguns executivos carregam de que sua empresa está livre de crises. Por isso, acabam, ainda que inconscientemente, sendo negligentes com a organização e com sua imagem.

Enquanto, em um extremo, na busca excessiva pela valorização da imagem, as socialites empresárias foram (aparentemente) capazes de cometer crimes, no outro extremo estão aqueles que, preocupados apenas com os resultados financeiros, esquecem da importância de cuidar continuamente da sua imagem e se fortalecer para uma possível crise. Mesmo quem tem uma conduta séria está sujeito a passar por uma crise – e muitos outros artigos deste blog já mostraram isso.

Além de ter que se explicar à justiça, Eliana Tranchesi, da Daslu, e Tania Bulhões experimentaram o sabor amargo de uma crise de imagem, que, ao que tudo indica, não é nada agradável.


Bruno Carramenha é Executivo de Atendimento da LVBA Comunicação e professor-assistente de Gestão da Comunicação Interna na Faculdade Cásper Líbero.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Em campo minado – por uma carreira sustentável

Você está em crise com sua carreira? Porque está no começo – estagiário, trainee e assistente? Não sabe se fez a escolha certa? Se essa é a sua profissão? Agora é tarde pra mudar! Não sei se quero trabalhar nesse tipo de empresa! Queria usar minha profissão para fazer algo mais social. Questionamentos e dúvidas.

Ou você já esta com mais de 10 anos de profissão, analista sênior, pleno, supervisor, gerente e pergunta: Não sabe se fez a escolha certa? Se essa é a sua profissão? Agora é tarde pra mudar. Não sei se quero trabalhos nesse tipo de empresa? Queria usar minha profissão pra fazer algo mais social.

Ou você já esta estabilizado, diretor e coordenador e as questões devem ser, deixe me ver: Não sabe se fez a escolha certa? Se essa é a sua profissão? Agora é tarde pra mudar. Não sei se quero trabalhos nesse tipo de empresa? Queria usar minha profissão pra fazer algo mais social.

É impressionante como mudam as pessoas, mas não mudam as situações. Nas últimas décadas pude observar uma ansiedade grande por parte dos profissionais com relação à carreira. Será que estamos tomando a decisão certa? Esse talvez seja o primeiro conflito, o momento de angústia que nos coloca diante de vários caminhos e uma só escolha.

Se tivesse que escolher uma figura que representasse essa situação, seria de um campo minado – estamos em algum ponto, ainda não pisamos em nenhuma bomba, mas a qualquer momento isso pode acontecer, a tensão é grande, o desgaste maior ainda e, pra piorar, a vida é por vezes um labirinto de paixões, que temos de administrar. É, meu amigo, se essa não for uma crise, eu não sei como caracterizar ou denominar.

Mas tem solução? Sim. Complexa, difícil, dolorosa, às vezes, e provavelmente a saída é entender que podemos ter uma carreira sustentável. – Lá vem mais uma frase de efeito que acompanha um modismo. A frase pode até ser, mas a lógica não!

Fazemos o que não gostamos. Trabalhamos em empresas nas quais não acreditamos, mas, muitas vezes, o peso do salário é algo avassalador e cruel. Momento de definir se continuamos ou mudamos. Sustentável, aqui, significa: viável, qualificável, possível, que nos dê uma perspectiva de futuro, que não nos leve, aos 40, ao encontro do Rivotril, da Valeriane ou do Lexotan.

Em primeira instância, o que é ter uma carreira sustentável? É planejar com responsabilidade seus movimentos profissionais – movimentos sim, afinal isso é um jogo de xadrez – e fazer o quê se sua natureza pede, sem perder o juízo, é claro.

Vamos ser honestos. Não dá pra mudar de emprego sem que haja uma preparação; é preciso investir na mudança. É preciso definir um caminho. Se não sabe para onde ir, como vai escolher um rumo? Cuidado, você pode cair no poço sem fundo da vaidade e da arrogância ou, pior, da covardia. Não há idade pra mudança, ela tem que acontecer. O medo é um inimigo mortal.

Também não é possível manter-se na empresa sem interesse ou prazer. Continuar reclamando de braços cruzados é chato e deprimente. Estude, faça cursos. Dedique um tempo pra leituras, para bons hábitos culturais, cultura é fundamental. Apresente projetos! Se não querem ouvir, problema de quem não tem essa competência. Lembre-se, o inventor do post-it, foi chamado de incompetente pelo chefe, que disse que jamais aquela bobagem teria algum sentido.

Sustentável ou não, saia do muro, ande, em algum lugar você vai chegar.


Júlio César Barbosa é vice-coordenador do curso de Relações Públicas da Faculdade Cásper Líbero.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Comunicação e Democracia: o novo papel das mídias sociais

O nascimento e o sucesso das mídias sociais ocorreram, entre muitas razões, pela necessidade natural do ser humano de relacionar-se em sociedade. Pelas ondas da internet, palavras, fotos e vídeos cruzam fronteiras sem mostrar passaporte. Pessoas de todo o planeta interagem entre si, estão em sites como Orkut, Facebook, Plaxo, Linkedin e tantos outros, e em milhares de blogs e microblogs, trocando informações e arquivos, conhecendo homens e mulheres. Até aí, nenhuma novidade. Entretanto, foi recentemente no ambiente político que as redes sociais mostraram sua nova faceta.

A vitória de Mahmoud Ahmadinejad no Irã, ocorrida nas eleições presidenciais em junho de 2009, foi um resultado polêmico naquele país e mexeu com os brios da população local e de cidadãos em outras partes do mundo. Protestos violentos, prisões e acusações de fraude política foram os motivos do novo presidente iraniano para expulsar jornalistas estrangeiros e dificultar o acesso à internet para minimizar a repercussão sobre o caso. Neste ambiente autoritário, as mídias sociais estão sendo usadas para realizar a cobertura jornalística de fatos importantes e colaborar na construção da democracia. Mesmo sem a possibilidade de confirmação de fatos e de não garantir a veracidade das informações e das fontes, o jornalismo coloca a notícia no ar, promovida pelos protagonistas da situação e também da reportagem.

Os sites dos grandes veículos de comunicação como CNN, BBC e The New York Times não são mais as principais fontes de consulta hoje em dia. Twitter, Flickr, YouTube e muitos blogs pautam a imprensa mundial e divulgam informações atualizadas sobre o confronto no Irã e tantos outros temas. Assuntos como #iranelection estão entre os mais citados e procurados na internet no famoso site de microblog. Direto da fonte, civis e repórteres arriscam vidas em prol da informação para o mundo. Além disso, há pouco tempo foi criado o CitizenTube, um site com o objetivo de permitir a interação de pessoas para postar vídeos relacionados à cidadania, à política e assuntos correlatos. Já está fazendo o maior sucesso, com vídeos de cenas ocorridas nos últimos dias no Irã.

Em proporções bem menores, a semana passada no Brasil foi marcada também por um protesto iniciado na web contra o presidente do Senado, José Sarney. Novamente o Twitter e seus participantes tiveram influência relevante na mobilização de cidadãos brasileiros contra o político, inaugurando uma nova crise em Brasília e no cenário nacional. O debate e as argumentações sugerem a cassação do mandato do maranhense, ou o afastamento das suas atividades, configurando um quadro de engajamento social da população por meio da internet. O que no início dos anos 90 foi feito pela geração dos “caras pintadas” com protestos nas ruas é, de certa forma, realizado hoje em dia pelos caras por trás de computadores e celulares.

A participação política e o engajamento na vida coletiva por parte da esfera civil buscam manter a igualdade dos direitos e da justiça, seja em assuntos de interesse coletivo ou restrito. O papel das mídias sociais nesse contexto possibilita a busca contínua pela liberdade de opinião e pela manutenção da rede de informação como forma permanente de construção da democracia. A cobertura jornalística ganhou novos contornos e aliados. O que acontece em qualquer lugar do mundo não fica mais ali, dentro dos muros. As notícias ultrapassam os limites onde chega o poder e conquistam o mundo com milhares de leitores por segundo, nesta atual sociedade da informação.


Renato Martinelli é consultor de comunicação estratégica pela consultoria SOULSMART, possui mais de dez anos de experiência na área e é autor do blog Comunicação e Marketing Brasil.